sexta-feira, 31 de julho de 2015

OS PERIGOS DA LAVA-JATO

por Gileno Araújo

A operação Lava-jato é, no imaginário da média dos brasileiros, um sopro de esperança, uma gloriosa onda de luz, onde a justiça "finalmente vai sendo feita" e a nação se enche de júbilo, no intuito de um dia descansar a cabeça sabendo que o seu país enfim tomou jeito, entrou nos eixos, tornou-se um lugar decente, governado por pessoas honestas. Mas na verdade não é isto.

Essa visão de superfície, fruto da preguiça mental, também é resultado da permanente lavagem cerebral promovida pela mídia oligárquica, com sua agenda de moldar o senso comum dentro das metas que atendem aos seus interesses, e dos seus parceiros econômicos e políticos, seus associados no crime.


Uma boa parcela de brasileiros é despolitizada. São o resultado da precariedade da nossa educação, silmutaneamente com a desastrosa atuação da mídia, que intervém mais no sentido de imbecilizar do que de criar cidadãos com boa formação cultural, e portanto com um senso crítico mais afiado.


É na esteira dessa bagunça sócio-cultural que surgem de vez em quando os "salvadores da pátria". A mídia costuma deixar em estado de espera a oportunidade para vender o próximo super herói que vai botar moral em "tudo isso que está aí".


Há um tempo atrás a Globo manipulou o debate dos candidatos à presidência, a tal ponto que o rufião Fernando Collor foi eleito com toda a paparicação que se daria a um super-astro.

Suas atitudes excêntricas logo foram revelando que era tudo fachada. 
Logo a população viria a sentir no bolso o ledo engano, ao ver suas economias confiscadas.
O desagrado foi tanto, que o impeachment precisou apenas de um Fiat Elba.

As grandes comoções sociais, os ajuntamentos populares, a massa que se inflama num clamor coletivo, é um dos fenômenos mais importantes para a tomada de decisões políticas pelos que detêm o poder. É uma força extraordinária que determina alinhamentos e realinhamentos de posição. Por isto é tão importante para os golpistas de plantão conseguirem manipular a opinião pública a seu favor.


Percebe-se na atualidade mais uma vez a engenharia sócio-política de determinados grupos, insatisfeitos com os rumos republicanos orientados pelas sucessivas vitórias do PT, um sentimento de despeito, uma constatação de que a oportunidade para atuar de forma desonesta, nas práticas licitatórias, nos esquemas fraudulentos, tornou-se mais difícil do que quando a farra era liberada, nas gestões do PSDB por exemplo, entre outros. 


Foi o PT que começou a esboçar um empenho republicano ao criar a Controladoria Geral da União, e vários outros mecanismos, como o Portal da Transparência, que foi fazendo encolher aquela área de sombra, onde os gananciosos do patrimônio público poderiam atuar livremente.


Portanto o PT tornou-se o inimigo número um dos consórcios criminosos que se locupletavam nas tetas do governo.


Essa visão deixa de cabelo em pé os antipetistas manufaturados pela desinformação, ou pela projeção constituída de que o partido dos trabalhadores seria a mola mestra de toda a corrupção que cabe combater. 


O "mensalão", emplacado na calada da noite para criminalizar o PT, nunca foi provado. O único indício real de algo ilícito era a prática do caixa dois, algo comum a todos os partidos na época da condenação dos petistas. 


Agora vem a Lava-Jato destrinchando os podres dessa rapaziada do meio político, mas, com um descaramento absurdo, poupando os maiores adversários do PT, assim como fizeram com o mensalão mineiro peessedebista.

No noticiário da Globo, em 90% das reportagens, eles vão aproveitar a oportunidade para inserir "a participação do PT" na sua fala sobre os mal feitos. Poupando inegavelmente os seus correligionários tucanos (Vide Manchetômetro).
A veja chega ao extremo de mentir, contanto que atinja a honra do ex-presidente Lula.

A tática é associá-lo ao crime por sugestão ao eleitorado, inviabilizando qualquer possível candidatura sua em um novo pleito.


É um movimento orquestrado.


Surge na cena política nacional o novo paladino da justiça, o Juiz Sérgio Moro, mais nova celebridade global, como uma espécie de santo de toga, cujas decisões não são contestadas pelos formadores de opinião. Apenas submissamente acatadas, quando não louvadas à exaustão.


É algo assim que faz surgirem movimentos fascistas. Uma distorção do senso crítico promovida pela propaganda ideológica.


Fica óbvio que em sua avidez pela justiça a qualquer preço, o juiz Moro e sua Lava-jato começam a criar problemas para a economia do país, com a paralisação das empresas responsáveis pelas grandes obras em andamento em todo o território nacional, demissões em massa, etc.

Isto porque o drama sendo mais severo, o repúdio ao partido associado ao tema torna-se mais veemente.

Eles querem tirar de cena o PT.

Pode parecer exagero isso que afirmo, ou uma atitude de quem quer proteger o partido de sua preferência, como quem defende seu time de futebol, mas não é isto.

A prova do que está sendo aqui afirmado está no recente vídeo colocado ao ar no Youtube, onde um dos participantes da força tarefa da Lava-jato, o procurador Deltan Dallagnol, extrapola suas atribuições para pedir ao povo que assine um abaixo assinado, solicitando que sejam votados no congresso dez itens considerados importantíssimos, pelos que fazem essa nova instituição federal da Lava-jato.
Aqui o sumário com as dez medidas propostas pelo MPF no combate à corrupção:

http://www.combateacorrupcao.mpf.mp.br/10-medidas/docs/sumario_executivo.pdf


Reparem no item 8 "RESPONSABILIZAÇÃO DOS PARTIDOS POLÍTICOS E

CRIMINALIZAÇÃO DO CAIXA 2".

Para um observador desavisado, parece que não há problema algum. Tudo muito bonito e democrático. Mas nas entrelinhas se percebe uma motivação estranha.


Como se pode querer criminalizar um partido?


É a mesma sensibilidade de quem causa um grave transtorno a toda uma empresa com abrangência nacional e internacional, ameaçando milhares de empregos, para punir corruptos. É jogar a água do banho com o bebê dentro.


A criminalização de um partido político, com a possibilidade de cassação de seu registro é um flerte perigoso com as teorias fascistas. Lembremos os anos de chumbo onde o PCB foi fadado à ilegalidade.


Um partido político não é feito apenas pelos seus representantes eleitos, por sua administração, por sua diretoria. É também algo que aglutina a vontade de todos os seus milhões de seguidores e afiliados. De todas as pessoas que se alinham com as propostas desse partido.


A despartidarização, como se as siglas partidárias fossem meros elementos burocráticos para que alguns polítcos possam ter como se eleger, é uma das estratégias da direita, em sua fome de assumir a representatividade popular. Pois não tendo idéias a defender, não há como supor a orientação de quem se elege. Assim, aquele que pleiteia a hegemonia do mercado não será visto como inimigo da classe trabalhadora. Não tendo a classe trabalhadora uma sigla que a defenda, haverá uma orfandade ideológica atemorizante.


Por isso quem manifesta apreensão com a ameaça de que a Pátria Mãe, tão distraída, venha a ser subtraída em "tenebrosas transações", deve estar tão preocupado com as motivações desses novos "cruzados" do MPF, JUDICIÁRIO e Polícia Federal, quanto com o combate à corrupção. Pois há muitas maneiras de um agente público atuar de maneira corrompida frente aos critérios constitucionais e aos interesses legítimos da população.